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Opinião - 10/03/2017

INCORRETO, INCONSEQUENTE E IRRESPONSÁVEL

Bom dia amigos. Recebi esta semana de um de nossos clientes um áudio, de uma tal de “Rural Business”, que nunca tinha ouvido falar, me perguntando o que eu achava de seu conteúdo. E o que eu ouvi foi tão estarrecedor, que achei melhor fazer este texto e replicar a todos os nossos clientes para que se mantenham alertas ao perigo que esse tipo de gente representa. Para quem me conhece, e já participou de meus cursos e palestras, sabe que esse é aquele tipo de jornalismo (sim, porque isso não é análise, isso é reportagem policial) que eu tanto abomino e combato. Pois em essência ao invés de contribuir, atrapalha. Ao invés de somar, diminui. O termo que eu normalmente uso para isso é o de “desinformação”.

Em um texto absolutamente sensacionalista, até bem narrado, onde a troca de palavras sempre busca uma frase com final de impacto, “estilo Datena”, são apresentadas uma série de informações erradas, incompletas, ou tendenciosas, levando confusão ao mercado e aos nossos produtores. O texto fala de 3 aspectos centrais do mercado, que são a escassez de oferta no Brasil, a demanda global forte e o clima nos EUA. Vamos aos tópicos principais do comentário e os seus respectivos contrapontos:

- 1) Primeiro se vangloria de ter “previsto” que os embarques seriam recordes no mês de fevereiro, atingindo 3,5 milhões de t.

Mas essa “previsão” era de conhecimento público para qualquer um que acompanhe a evolução dos line ups nos portos brasileiros, como nós fazemos. Só “esqueceu” de dizer que na verdade os line ups apontavam embarques superiores a 5,0 mls de t, e que não foram cobertos em função da retenção de venda pelos produtores. E não disse também que esses embarques “adiados”, são normalmente perdidos pelo país, pois se o comprador não encontra oferta aqui, vai buscar nos EUA, Paraguai, Argentina, etc. Tanto isso é verdade, que os line ups de março já começaram a se enfraquecer.

Também “esqueceu” de dizer que o país está colhendo uma safra superior a 108 mls de t este ano, e que precisamos exportar pelo menos 60 mls de t de soja em grão para evitar que cheguemos ao final do ano com estoques de 10 mls de t abarrotando nossos armazéns. E que, portanto, cada navio carregado de soja que mandarmos para fora é fundamental em um ano como esse.

- 2) Em cima do fluxo de exportação forte de jan e fev, a narradora diz categoricamente para o produtor não vender, pois os compradores vão subir os prêmios de exportação e serem obrigados a pagar mais no mercado interno.

Nesse único ponto, eu até concordo com ela. Mas só que por motivos diferentes. Aos nossos clientes que são vendedores também temos dito que a venda entre fev e abr não é recomendável em função da pressão de baixa que a colheita de uma safra cheia como essa sempre exerce sobre o nosso mercado. Comentamos em nossos textos de análise que nos últimos 10 anos, em todos eles o menor preço do ano foi praticado entre fev e abr.

Mas também dissemos exaustivamente que, se o produtor ainda não tinha vendido nada antecipado e precisasse de recursos nesse período (fev/abr), que vendesse rapidamente (até o fim de jan) antes do início da colheita. Pois bem, entre o pico de preço em jan e o atual fundo do poço entre fev/mar já chegamos a ter queda de R$ 10,00 por saca.

Outro fato “esquecido” na reportagem foi a questão da relação de troca. Mas aí também é querer demais, achar que gente desse tipo saiba o que uma relação de troca significa. Aos nossos amigos parceiros temos dito que façam as contas da troca por insumos, uma vez que com a queda do dólar e o aumento da oferta, algumas oportunidades interessantes de negócio estão aparecendo, especialmente com fertilizantes e químicos.

- 3) E, por último, o texto fala sobre a safra nova dos EUA. E aí meus caros, a coisa desandou de vez. Começa falando em imprudência afirmar qualquer coisa neste momento sobre o clima nos EUA, o que eu concordo plenamente, para logo em seguida afirmar categoricamente para o produtor brasileiro não vender, porque vai ter quebra na safra norte-americana. Então, somando o “não venda agora”, com o “não venda porque a safra dos EUA vai quebrar”, ela está querendo dizer ao produtor brasileiro que só entre no mercado lá pelo mês de setembro. Dá para acreditar nisso? É melhor ouvir isso do que ser surdo?

Vamos aos fatos: neste momento, início da segunda semana de março, parte do Meio Oeste dos EUA está realmente com solos mais secos do que o recomendável. Esse quadro é observado também em parte das planícies do sul, trazendo “alguma” especulação de problemas de potencial produtivo no trigo de inverno. Mas esse fato por enquanto não quer dizer absolutamente nada, uma vez que o plantio de milho só começa em abril e o de soja apenas em maio. Tanto que o mercado em Chicago está solenemente ignorando essa informação, que a tal “Rural Business” acha bombástica. Em consulta aos nossos parceiros da meteorologia, foi me dito que a chamada para a primavera e verão dos EUA é, na verdade, de chuvas dentro da normalidade, considerando o fim do La Nina e o momento de transição para um possível El Nino no final do ano.

É claro que o estudo da meteorologia não é exato e que as coisas mudam muito rápido nesse sentido. Então, é óbvio que a safra nova dos EUA pode ter algum tipo de problema na temporada. Inclusive, temos comentado em nossos textos e palestras, que empiricamente (fatos que observam na experiência prática) falando, está para acontecer em breve algum tipo de perda mais grave na safra norte-americana. Pois nos últimos 30 anos, a cada 4 ou 5 anos eles tem uma frustração mais séria, fazendo os preços subirem acentuadamente. E neste caso, a última perda deles aconteceu em 2012 (2012, 2008, 2004, etc). Por isso temos sugerido atenção aos nossos clientes, que o Weather Market dos EUA deste ano (mai a ago) tende a ser tenso, com chances de boas oportunidades de venda.

Mas daí a afirmar sem sombra de dúvidas que a safra dos EUA vai perder e que o produtor brasileiro não venda até que isso se confirme, é para alguém que desconhece completamente a natureza e a dinâmica do nosso mercado. É para alguém que opta pelo sensacionalismo barato, com o claro objetivo de se fazer diferente. É para alguém completamente sem escrúpulos sobre o dano que esse tipo de jornalismo possa provocar. É para inconsequentes. É para irresponsáveis!

Um agroabraço a todos!

Flávio Roberto de França Junior

Sobre a DATAGRO

A DATAGRO é uma consultoria agrícola independente, que produz análises e dados primários sobre as principais commodities agrícolas. Com mais de 35 anos de experiência, analisa os mercados de açúcar, etanol, energia, milho, soja, carnes, e suas relações com a economia como um todo.

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