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Opinião - 11/11/2016

O FURACÃO DONALD TRUMP E O AGRO BRASILEIRO

Caros amigos. Mais uma vez, em função de inúmeros compromissos profissionais acabei impossibilitado de escrever essa coluna nas últimas semanas. Mas não dá para reclamar de trabalho, não é mesmo? Então, vida que segue e bola para frente, que o mundo está se movendo. E como está se movendo. Nesta última semana, para a surpresa da grande maioria (nem tanto para os eleitores norte-americanos), o empresário Donald Trump foi eleito o 45º presidente dos EUA. Muito tem sido escrito sobre as incertezas inerentes a esse resultado e este é o cerne da questão: a imprevisibilidade. O que acontecerá com os EUA e o mundo a partir de 20 de janeiro de 2017? Quem governará a maior potencia do planeta, o falastrão, arrogante e intempestivo Donald Trump, ou o conciliador presidente eleito Donald Trump dos dias pós-eleição?

Nada fácil escrever sobre esse assunto. Especialmente depois do show de erros promovidos nesta eleição pela imprensa em geral, analistas políticos e institutos de pesquisa.  A imprensa e os analistas políticos, quase de forma unânime, ignoraram o grau de insatisfação presente em próximo de 50% daqueles eleitores que decidiram sair de casa para votar (lembrando que nos EUA a eleição não é obrigatória, e a abstenção ficou na casa dos 45%). E que mesmo de forma silenciosa e envergonhada pelo perfil histriônico de seu candidato, optou pela mudança abrupta de direção na política do país. Quem votou em Trump não o fez pela sua exótica cabeleira e seu bronzeado cor de laranja, ou por suas manifestações machistas, sexistas ou racistas. O fez porque está com raiva e quer mudança. Não está feliz e está furioso com a imprensa, com os analistas políticos e com os políticos tradicionais.

E, como vimos nesse incrível 2016, este não é um fenômeno isolado nos EUA. Basta relembrar da surpresa geral com o resultado do plebiscito decidindo pela saída dos britânicos da União Européia. Tendência essa que pode se tornar dominante em outros países da região, como a Itália e a França. Do resultado das eleições na Argentina (no final de 2015). Da vitória do Não no plebiscito sobre o acordo de paz entre o governo da Colômbia e as FARC. Basta lembrar do resultado das eleições municipais no Brasil. Movimento que tende a se repetir por essas bandas em 2018. A insatisfação é geral e essa guinada à direita e ao não tradicional não deveria ser considerada uma surpresa, posto o fracasso das políticas mais “esquerdistas” dominantes em grande parte do mundo. Está caindo de maduro, bastando apenas que alguém, ou um personagem, consiga capitalizar essa insatisfação. Quem paga a conta não aguenta mais. Quem paga a conta está de saco cheio.

Além do espanto geral, a eleição desta semana trouxe impacto imediato bastante forte sobre o mercado. É o financeiro tentando precificar toda essa imprevisibilidade, fugindo do risco e se ancorando em ativos mais seguros. Em um primeiro momento tivemos queda nas bolsas de valores, petróleo, commodities agrícolas e metálicas. E alta do dólar e do ouro.  Na sequência mantivemos o petróleo, as agrícolas e as metálicas em baixa, mas foi revertido o movimento das ações, que passaram a subir com a possibilidade de incentivos do novo governo a diversos setores da economia doméstica, que atualmente atravessam problemas, e aos positivos indicadores de emprego nos EUA. 

Mas por que essa reação tão forte do mercado? Em campanha, Trump defendeu ideias muito além de conservadoras, como: saída dos EUA da Otan; rompimento de acordos comerciais, como o caso da Transpacífico; endurecimento da política de imigração, com expulsão de ilegais e construção de muro na fronteira com o México; mudança na política fiscal, com mais estímulos internos e mais barreiras externas, como imposto de 35% aos produtos mexicanos e de 45% aos produtos chineses; e rompimento de acordos ambientais. 

Mas convenhamos, considerando a solidez das instituições norte-americanas, especialmente legislativo e judiciário, alguém imagina realmente que ele conseguirá implementá-las? Será que ele conseguiria isolar efetivamente o país e viver apenas do incentivo ao mercado doméstico? Sabemos bem e estamos sentindo na pele o resultado desse tipo de pensamento aqui no Brasil. Por isso acho muito pouco provável que aconteça. Entendo que não é momento de precipitação e desespero, pois o bicho pode não se revelar tão feio assim. O negócio é deixar a poeira baixar e as abóboras se acomodarem na carroça, porque ele tende a cair mais para o centro e se tornar um típico governante republicano. Um pouco mais de protecionismo, sim. Algum retrocesso na questão ambiental, talvez. Endurecimento da política de imigração, certamente. Menos diálogo e menor ingerência na política externa, provavelmente. Mas barreiras comerciais e fechamento de fronteiras, muito dificilmente.

E o nosso agronegócio com isso? Inicialmente o mercado sentiu o impacto negativo sobre os preços nas diversas bolsas de futuros, como o caso da CBOT. Porém, observou também o impacto positivo da forte alta da taxa de câmbio sobre os produtos com vinculação ao mercado externo, abrindo espaço para uma nova rodada de negociações, enquanto muitos acreditavam que o ano já tivesse terminado. Lembrando que essa alta do câmbio também foi influenciada por aumento das tensões políticas aqui no Brasil. Fora isso, temos apenas a conjectura de que o aumento de barreiras comerciais atrapalhe nossas exportações de produtos como café, suco de laranja, etanol e carnes. Mas uma briga comercial com o México e com a China seria vantajosa para o Brasil.

Daqui para frente, não temos como evitar a utilização da palavra imprevisibilidade. Então, temos basicamente três caminhos a seguir. Na hipótese do caos nas relações comerciais dos EUA com o mundo, a alta do câmbio seria anulada pela queda nos preços internacionais e do consumo. Não vejo muita vantagem em segurar as vendas. Na hipótese de que a confusão seja observada apenas no Brasil, com a cassação do mandato do presidente Temer, aí há espaço para novas altas no câmbio e vantagens em segurar o produto físico em seus armazéns. E na hipótese de que estejamos diante apenas de uma bolha especulativa do câmbio e dos preços lá fora, a questão central seria adivinhar quando aconteceria o estouro e a reversão. Portanto, façam suas apostas!

Um “AgroAbraço” a todos!!!

Flávio Roberto de França Junior

Sobre a DATAGRO

A DATAGRO é uma consultoria agrícola independente, que produz análises e dados primários sobre as principais commodities agrícolas. Com mais de 35 anos de experiência, analisa os mercados de açúcar, etanol, energia, milho, soja, carnes, e suas relações com a economia como um todo.

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